Tenho uma especial predileção por este trabalho, por ter sido um dos primeiros exemplos (2004) em que obtive um resultado satisfatório na execução de uma idéia. Não se tratava da simples realização de um fractal ao qual eu iria apor posteriormente um título mais ou menos sugerido pela imagem. No caso, eu desejava representar as etapas da destruição da floresta tropical, porém não de uma forma "propagandística", ou pretendendo um engajamento da forma para submetê-la aos ditames de uma posição social ou política.
Ao optar pelo formato do tríptico, procurei demonstrar uma certa ironia. O tríptico é uma forma narrativa visual muito explorada nos altares das catedrais. O detalhamento da imagem induz o espectador a "entrar" na narrativa e, portanto, identificamos o tríptico com um forte conteúdo de moral e de exaltação. Ao utilizar este elemento no meu trabalho destaco que, ao contrário de induzir à "salvação" o meu tríptico demonstra a "destruição". O dourado da moldura é utilizado como ironia à sua função didática original.
Os segmentos procuram demonstrar as etapas da destruição. No primeiro, a "selva" desdobra-se uniformemente como um tapete verde ao redor da mancha central originada pelo complexo de Mandelbrot. Deixei-o com uma cor que parece refletir uma luz dourada. Nesse sentido a imagem tem um pouco das antigas descrições que os exploradores deixaram da selva amazônica, como uma região encantada, repleta de tesouros e habitada por seres maravilhosos.
O segmento central tem uma qualidade gráfica que parece fazê-lo saltar para fora da moldura. Ali a floresta está reduzida a raizes queimadas, vista como um emaranhado impenetrável e ressecado.
O último segmento mostra a antiga floresta reduzida a uma área pequena de "vegetação", que parece encolher-se cada vez mais mostrando os vestígios de grandes árvores derrubadas e mortas. Podemos observar semelhante imagem em muitas fotografias de satélite que fazem o levantamento da destruição da floresta tropical.
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